A lei que obriga a exibição de filmes nacionais para os baixinhos


A partir de agora, as escolas do ensino básico serão obrigadas a exibir filmes nacionais em salas de aula. Dilma sancionou uma lei que inclui a exibição de filmes nacionais como complemento curricular. Tal como acontece hoje com a literatura, o cinema também merece a sua cota de desprezo dos alunos das escolas públicas.
Uma das discussões mais interessantes que surgem com essa medida são os critérios para escolher os filmes que serão exibidos. Afinal, vale qualquer filme nacional? Pode ou não pode a chanchada? Haverá cota para filmes sem Wagner Moura, Selton Mello e Fabio Porchat?
E que lições podemos tirar de Minha Mãe é uma Peça?
Alguém mais atento já percebeu que as provas não ficarão apenas entre Bentinho e Capitu, vão ser entre Capitão Nascimento e a personagem de Tony Ramos em Seu eu Fosse Você 2:
- Cite, em três linhas, uma questão social que tenha lhe chamado a atenção em Se Eu Fosse Você 2.
- A troca de corpos entre os personagens de Tony Ramos e Glória Pires nos apresenta o conceito de gênero, mais preciso do que o de sexo para a compreensão dos papeis de homens e mulheres na sociedade.
Quem precisa atravessar o Grande Sertão: Veredas com Diadorim quando, em menos de duas horas, podemos ver Gloria Pires no papel de um homem bronco também? (A maior obra da literatura brasileira, como a maior bilheteria do cinema nacional, versam sobre travestismo. Penso que é transfobia essa não ter sido uma questão do Enem ainda).
Ao contrário da maioria dos críticos da lei, acredito que de todo filme se pode tirar uma lição.
A Princesa Xuxa e os TrapalhõesA Princesa Xuxa e os Trapalhões
Ora, os filmes dos Trapalhões são ricos de questões sociais, que vão do alcoolismo a problemas de adultos com déficit cognitivo.
Lua de Cristal, além de ser uma história de superação, mostra de maneira recreativa o tema da escravidão doméstica. Inovou ao apresentar, no começo dos anos 90, o conceito de escravidão para baixinhos.
Sobre o impacto e da interpretação do feminismo e o papel da mulher contemporânea na sociedade, penso em De Pernas pro Ar e De Pernas pro Ar 2.
Eu, que estava convencido de que vivíamos num país onde faltavam livros didáticos, carteiras e portas nas salas de aula, percebo agora que essa não é mais uma realidade da educação hoje. Ao que parece, somos um país com plenas condições de ter aparelhos de televisão, aparelhos de DVDs e uma videoteca em todas as escolas. Os padrões subiram. Sinto como se eu tivesse dormido numa matéria do Fantástico de três semanas atrás e, pimba! subitamente as goteiras nas escolas públicas desapareceram.
Hoje, apenas 26% dos brasileiros são considerados alfabetizados plenos. 30 milhões de brasileiros são analfabetos funcionais. Adolescentes saem do terceiro ano sem conseguir escrever uma redação sobre as férias, mas pelo menos a partir de agora poderão me dizer qual é afinal o Mistério de Feiurinha.

Fonte Blog do Guy Franco

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